O rock and roll já
foi símbolo de rebeldia juvenil (nos seus primórdios), contestação
político-social (anos 60 e 70) ou até mesmo de manifestação de “forças
ocultas”. Essa última vertente pode ser atestada pelas letras e pelo visual de
bandas de heavy metal e subdivisões do estilo. Mas também em declarações
públicas de alguns artistas, incluindo o lendário John Lennon e o pai do rock
brasileiro, Raul Seixas.
Muitas vezes, essas
declarações não passam de um recurso quase cômico que os artistas utilizam para
chocar setores conservadores da sociedade que se incomodam com frases como: “o
diabo é o pai do rock” ou “fizemos um pacto com o demônio para alcançar o
sucesso”. O fato é que os roqueiros assustam muita gente... Ou melhor,
assustavam. Nos tempos modernos, o rock não é uma expressão artística oposta à
cultura padrão, tornou-se parte da mesma.
Elementos
normalmente associados ao rock, como guitarras e jaquetas de couro, têm se
tornado comuns no universo da publicidade. Digo isso sem embasamento
estatístico, apenas por ter notado a quantidade de outdoors com tais elementos.
Dou como exemplo um anúncio de um grande shopping de Belo Horizonte que
apresentava um rapaz com um respeitável cabelo black power (no melhor estilo Jimi
Hendrix) empunhando um baixo (se não me engano, um modelo Jazz Bass da Fender).
As expressivas
vendas e a crescente popularidade dos jogos Guitar Hero e Rock
Band,
estão levando para os lares (conservadores ou não) do mundo todo uma avalanche
de riffs para serem consumidos e repetidos por novos e antigos admiradores da
boa e velha guitarra distorcida. Esses jogos estão disponíveis em diversas
plataformas, incluindo os vídeo-games voltados para toda família. Com isso,
alguns riffs bem velhinhos ganharam vida nova no imaginário da juventude atual,
anexando à cultura pop bandas que antes representavam o seu oposto.
O
rebelde-drogado-louco-suicida Kurt Cobain é hoje um personagem disponível nos
novos games onde ele canta o que você quiser (até Bon Jovi!!) e pode assim
freqüentar com total aceitação lares onde o Nirvana jamais pisou sem prévia
autorização dos pais.
No começo de minha
vida profissional, trabalhei com uma banda que se apresentaria em casas de show
destinadas a um público pop. Durante a escolha do repertório, tentei ser ousado
sugerindo a música Paranoid, de autoria do
Black Sabbath. O guitarrista, mais experiente que eu, alertou: “Certa vez,
tocamos esse riff em uma festa high society e uma menina chorou de medo na
platéia”. Tudo bem, a garota em questão pode ser um pouco exagerada, mas a
verdade é que Ozzy Osbourne e cia. realmente assustavam muitos ouvintes
despreparados. Hoje, Ozzy é uma figura totalmente ambientada à mídia
internacional. Seus adereços e comportamento bizarros foram levados para o
nível do humor no seriado The Osbournes, maior sucesso de
audiência na história da MTV americana. Recentemente, ao apresentar a música Iron
Man para uma aluna pré-adolescente, me
surpreendi ao saber que ela já a conhecia e não tinha medo, obviamente...
O Black Sabbath não
apavora crianças e o rock não é inimigo dos adultos na batalha pela educação de
seus filhos. Teria o rock and roll perdido sua força contestadora e sua fúria
original? Acho que não... A inserção dos tradicionais roqueiros na nova cultura
pop global pode e deve ser vista com bons olhos pelos fãs do gênero musical em
questão. Hoje, a mídia encara sem preconceito os músicos “cabeludos e
esquisitos” e a arte produzida por eles.
Nada melhor do que
fazer parte do sistema para poder questioná-lo e moldá-lo para uma realidade
mais ampla. O rock and roll ganhou força e tende a crescer como arte,
entretenimento e ideologia. Agora só depende das bandas que estão surgindo.
Esperamos que elas tenham a capacidade de produzir “clássicos” para seus filhos
tocarem em palcos virtuais nos vídeo-games do futuro.
(Texto originalmente publicado em dezembro de 2009)
(Texto originalmente publicado em dezembro de 2009)
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