sábado, 23 de junho de 2012

Quem Tem Medo do Black Sabbath?




O rock and roll já foi símbolo de rebeldia juvenil (nos seus primórdios), contestação político-social (anos 60 e 70) ou até mesmo de manifestação de “forças ocultas”. Essa última vertente pode ser atestada pelas letras e pelo visual de bandas de heavy metal e subdivisões do estilo. Mas também em declarações públicas de alguns artistas, incluindo o lendário John Lennon e o pai do rock brasileiro, Raul Seixas.

Muitas vezes, essas declarações não passam de um recurso quase cômico que os artistas utilizam para chocar setores conservadores da sociedade que se incomodam com frases como: “o diabo é o pai do rock” ou “fizemos um pacto com o demônio para alcançar o sucesso”. O fato é que os roqueiros assustam muita gente... Ou melhor, assustavam. Nos tempos modernos, o rock não é uma expressão artística oposta à cultura padrão, tornou-se parte da mesma.

Elementos normalmente associados ao rock, como guitarras e jaquetas de couro, têm se tornado comuns no universo da publicidade. Digo isso sem embasamento estatístico, apenas por ter notado a quantidade de outdoors com tais elementos. Dou como exemplo um anúncio de um grande shopping de Belo Horizonte que apresentava um rapaz com um respeitável cabelo black power (no melhor estilo Jimi Hendrix) empunhando um baixo (se não me engano, um modelo Jazz Bass da Fender).

As expressivas vendas e a crescente popularidade dos jogos Guitar Hero e Rock Band, estão levando para os lares (conservadores ou não) do mundo todo uma avalanche de riffs para serem consumidos e repetidos por novos e antigos admiradores da boa e velha guitarra distorcida. Esses jogos estão disponíveis em diversas plataformas, incluindo os vídeo-games voltados para toda família. Com isso, alguns riffs bem velhinhos ganharam vida nova no imaginário da juventude atual, anexando à cultura pop bandas que antes representavam o seu oposto.

O rebelde-drogado-louco-suicida Kurt Cobain é hoje um personagem disponível nos novos games onde ele canta o que você quiser (até Bon Jovi!!) e pode assim freqüentar com total aceitação lares onde o Nirvana jamais pisou sem prévia autorização dos pais.

No começo de minha vida profissional, trabalhei com uma banda que se apresentaria em casas de show destinadas a um público pop. Durante a escolha do repertório, tentei ser ousado sugerindo a música Paranoid, de autoria do Black Sabbath. O guitarrista, mais experiente que eu, alertou: “Certa vez, tocamos esse riff em uma festa high society e uma menina chorou de medo na platéia”. Tudo bem, a garota em questão pode ser um pouco exagerada, mas a verdade é que Ozzy Osbourne e cia. realmente assustavam muitos ouvintes despreparados. Hoje, Ozzy é uma figura totalmente ambientada à mídia internacional. Seus adereços e comportamento bizarros foram levados para o nível do humor no seriado The Osbournes, maior sucesso de audiência na história da MTV americana. Recentemente, ao apresentar a música Iron Man para uma aluna pré-adolescente, me surpreendi ao saber que ela já a conhecia e não tinha medo, obviamente...

O Black Sabbath não apavora crianças e o rock não é inimigo dos adultos na batalha pela educação de seus filhos. Teria o rock and roll perdido sua força contestadora e sua fúria original? Acho que não... A inserção dos tradicionais roqueiros na nova cultura pop global pode e deve ser vista com bons olhos pelos fãs do gênero musical em questão. Hoje, a mídia encara sem preconceito os músicos “cabeludos e esquisitos” e a arte produzida por eles.

Nada melhor do que fazer parte do sistema para poder questioná-lo e moldá-lo para uma realidade mais ampla. O rock and roll ganhou força e tende a crescer como arte, entretenimento e ideologia. Agora só depende das bandas que estão surgindo. Esperamos que elas tenham a capacidade de produzir “clássicos” para seus filhos tocarem em palcos virtuais nos vídeo-games do futuro.


(Texto originalmente publicado em dezembro de 2009)

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